quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

PROBLEMAS ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM

Durante o ano letivo quantos de nós professores constatamos que tal aluno não fazia as atividades propostas em sala, e quando fazia, a letra era ilegível, nem o próprio aluno não sabia o que escrevera.
Em vários momentos acusamos o aluno de não se interessar pela aula, não fazer as atividades. No entanto, se costuma esquecer que, apesar da maioria desses alunos terem sido alfabetizados(da 5ª Série a 8ª, até o Ensino Médio), muitos deles não conseguiram superar problemas que surgiram na alfabetizaçao. E como nada é feito para que superem estes problemas, as dificuldades de aprendizagem acompanham os alunos para as séries subseqüentes.
A Aprendizagem é o resultado da estruturação do ambiente sobre o indivíduo, que se expressa diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência. Não se restringe, portanto, ao que aprendemos na escola, mas abrange os hábitos que formamos, os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais.
Para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial do educando, é necessário que ele perceba a relação do que está aprendendo e sua vida cotidiana. O aluno precisa ser capaz de reconhecer as situações em que aplicará os novos conhecimentos e habilidades, tanto quanto possível àquilo que é aprendido, seja significativo para ele.
Porém, a partir do momento em que a escola não está sendo um ambiente favorável, surgem barreiras que influenciam a aprendizagem. Obstáculos que se impõem aos alunos, criando-lhes dificuldades.
São inúmeros os fatores que geram tais dificuldades, algumas intrínsecas aos alunos, e outras, talvez a maioria, externos a ele.

 O QUE SÃO PROBLEMAS DA APRENDIZAGEM?

Segundo Gallagher, os Problemas Específicos da Aprendizagem, incluem um grupo heterogêneo de crianças que podem apresentar dificuldades para aprender a ler, falar, e a adquirir percepção visual e auditiva.
No entanto este problema não implica em deficiência propriamente dita (As deficiências compreendem atualmente a Deficiência Visual, Auditiva, Mental, Física e Portadores de Condutas Típicas).
“O termo problema específico da aprendizagem é referente a crianças que tem distúrbios em um ou mais processos psicológicos básicos para a compreensão da utilização da linguagem falada ou escrita. O distúrbio pode se manifestar em uma faculdade imperfeita para ouvir, pensar, falar, ler, escrever, soletrar e fazer cálculos matemáticos” (Ato de educação para todas as crianças excepcionais: 1975).
Os problemas de aprendizagem se referem às situações difíceis de serem enfrentadas pela criança “normal” e pela criança com desvio do que é considerado normal, mas com expectativas de linguagem a longo prazo.
Existem alguns fatores que podem desencadear um problema de aprendizagem, destacando principalmente os fatores orgânicos (refere-se à saúde física, à falta de integridade neurológica, alimentação inadequada e outros), psicológicos (relacionados à timidez, ansiedade, angústia, sentimento de rejeição, etc.) e/ou ambientais (ambiente familiar, influência dos meios de comunicação, questões econômicas, culturais, sociais, etc.).
Consegue-se identificar se o aluno apresenta dificuldade de aprendizagem quando o mesmo não realiza o que é proposto dentro do programa de ensino. Revelando que o ato de aprender encontra-se problemático.
Alguns problemas específicos da aprendizagem são condicionados pela escola, professor ou pelos próprios alunos.

EXEMPLOS DE PROBLEMAS ESPECÍFICOS DA APRENDIZAGEM

• Imagem corporal: que implica no conhecimento adequado ao corpo. É quando o aluno não consegue desenvolver bem seu esquema corporal, podendo ter sérios problemas de orientação espacial e temporal, o equilíbrio da postura, dificuldade de se locomover sem esbarrar em alguma coisa, ou obedecer aos limites das linhas e margem ao escrever.
Orientação espacial: é a relação entre o objeto e o observador. Quem apresenta esse problema costuma confundir letras que diferem quanto à orientação espacial (p, b, q, d) ser incapaz de locomover o olhos no sentido esquerdo direito pulando uma ou mais linha durante a leitura.
Orientação temporal: enquanto a orientação temporal está sempre relacionada às atividades visuais, a orientação temporal relaciona-se à audição. As pessoas precisam captar e discriminar a duração e sucessão de sons e ainda dominar conceitos temporais como: ontem, hoje, amanhã, dias da semana, meses, etc. A ausência dessa orientação causará dificuldades tais como a pronúncia de terminadas palavras, na escrita, na retenção de uma série de palavras e frases, má coordenação verbal, etc;
Disgrafia: é o problema relacionado à linguagem que é caracterizado pelo traçado lento de letras em geral ilegíveis, e a distorção da seqüência de movimentos quando escrevem;
Desortografia: caracteriza-se pela incapacidade de transcrever corretamente a linguagem oral, havendo trocas ortográficas e confusões de letras (f/v, p/b, ch/j, na/ã, etc).
Esses são as dificuldades mais comuns. Cabe, portanto ao professor, através da observação, perceber se o aluno apresenta alguma dificuldade de aprendizagem, afim de que possa interferir no processo de ensino-aprendizagem. Através de sua prática pedagógica, sua filosofia de vida, tornar a aprendizagem mais interessante e útil.
A criatividade, somada à convicção de que a aprendizagem é possível para todos os alunos e de que ninguém pode estabelecer os limites do outro, certamente contribuirão para diminuir as barreiras que tantos alunos têm enfrentado no seu processo de aprendizagem.
A flexibilidade também é um dos fatores que pode contribuir para a remoção destas barreiras, traduzindo-se pela capacidade do professor em modificar seus planos e atividades à medida que os alunos vão oferecendo pistas.


FERREIRO, Emilia. Desenvolvimento da Alfabetização: psicogênese. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

_________________ Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1985.

FERREIRO, Emilia. TEBEROSKY, Ana:Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez /Autores Associados, 1982.

KIRK, S.A., GALLAGHER, J.J., A Educação da Criança Excepcional, S. Paulo, Editora Martins Fontes, 1991.

LATAILLE, Yves. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. SP, Summus, 1992.

OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio histórico (2a.ed.). São Paulo: Scipione, 1995.

VyGOTSKY, L. A formação social da mente. SP, Martins Fontes, 1987.

_____________ Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1988.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Aspectos da vida asteca


Religião

Acreditavam num deus dual (pai dos deuses e mãe dos deuses), que numa manifestação do seu próprio ser, nasceram seus quatro filhos: os espelhos fumegantes (branco, preto, vermelho e azul). Esses deuses constituíram as formas primordiais que colocaram o sol em movimento e criaram vida na terra.
Conforme o hino abaixo:

No lugar da autoridade,
No lugar da autoridade, comandamos;
É o mandamento de nosso Senhor principal,
Espelho que faz as coisas se manifestarem.
Eles já estão a caminho, estão preparados.
Inebriem-se,
O deus da dualidade está agindo,
O inventor dos homens,
Espelho que faz as coisas se manifestarem
(Historia Tolteca-Chichimeca, manuscrito mexicano 46-58 bis, Bibliotheque Nationale, Paris, fº 36.)

Principais deuses





Tlatoc 





Coatepec Harinas, Estado do México. Varas de pino y resina. AV.


Huitzilopchtli-  Codex Magliabecchiano.




 





Quetzalcoalt- Codex Borbonicus









Tezcatlipoca- Codex Borgia









Xipe Totec- Museu Etnografico, Basiléia
















 




Xipe Totec- Codex Borgia


Sacrifício humano 
Era um dos pilares da religião asteca, indispensável para manter a harmonia e o equilíbrio da vida.
O sacrifício e a guerra cerimonial eram as atividades centrais da vida social, militar e político.




Códice Tudela, f. 57r. Reprografía: M.A. Pacheco / Raíces
 





A extração do coração expressa claramente o elemento básico do sacrifício humano: a concepção de dívida.
As criaturas deviam a vida a seus criadores e deviam pagá-la com seu próprio sangue.

Florentine Codex






Codex Magliabechiano

 

Língua  

Falavam a língua Náuatle, que em determinadas palavras assemelha-se ao português, por exemplo; tomate e chocolate, que em Náuatle é tomatl, chocolete.

O Tempo asteca
Os astecas tinham conhecimentos precisos sobre a duração do ano, a determinação dos solstícios, as fases e eclipses da Lua, a revolução do planeta Vênus e diversas constelações, como as Plêiades e a Grande Ursa. Possuíam dois calendários, o solar e o sagrado.
Calendário solar: contava com 365 dias, divididos em 18 meses, de 20 dias, mais cinco dias suplementares que eram chamados de Nemotemi (dias de azar).
 
Calendário solar. Pedra proveniente da base da catedral da cidade do México. Arte asteca 1325-1521( Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México) 

 Moon and sun, Codex Borbonicus
Calendário sagrado: Era utilizado para adivinhações e previsões astrológicas. Tinha 260 dias e era independente do calendário solar.  
A cada de 52 anos, calendário solar e sagrado coincidia. Nesta data os astecas temiam que o mundo.

Sociedade asteca
A sociedade era bastante flexível, ocorrendo mobilidade social dentro do Império.
Era composta de maneira geral pelos:
Pipiltin - Nobreza Hereditária.
Macehualtin - ou Comuns: era a maioria da população que vivia e trabalhava nas terras comunitárias, por direito de usufruto. Os Comuns pertenciam a grupos familiares Capulli ( Casas Grande ), que possuíam terra, um chefe de clã e um templo.
Escravos e Servo que trabalhavam nas terras privadas da nobreza 

Florentine Codex

 
A guerra tambem é  importante na sociedade asteca. E o guerreiro ocupa lugar privilegiado, diferenciando-se pelo seu visual.Os astecas eram guerreiros temidos em toda a América Central. Lutavam para impor tributos ou simplesmente para suprirem a falta de prisioneiros para o sacrifício a seus deuses.

Economia
Durante longo período apenas caçavam e coletavam alimentos. Cerca de 4 milênios se passaram até que o homem pré-colombiano iniciasse o processo que culminou na agricultura.
Se tornaram hábeis agricultores, desenvolveram sistemas de irrigação; terraceamento , diques, aquedutos e chinamp.
Chinamp era uma espécie de jardim flutuante

Alimentavam-se de milho (era tão importante que existia até um Deus-Milho), feijão, abóbora, pimenta e tomate. Os grãos de amaranto e sálvia eram usados em mingaus. Consumiam ainda peixes, crustáceos, batráquios e até insetos aquáticos. Aliás, os peixes e crustáceos só eram consumidos pelas mais altas camadas da sociedade. 

Máscara Cerimonial
Foto: Gerardo Cordero / Subdirección de Arqueología, MNA 

Significado das máscaras

Máscaras concediam poderes sobrenaturais;
Era usada durante os rituais religiosos  para invocar ajuda  de um animal ou algum personagem místico;
Para se protegerem;
Difundir o terror e medo e mostrar autoridade;
Falar com espíritos do alem.

Fontes de Pesquisas

http://historia.abril.com.br/cultura/tenochtitlan-capital-asteca-433516.shtml

http://www.azteccalendar.com/azteccalendar.html

http://www.artehistoria.jcyl.es/cronicas/obras/10372.htm

http://www.precolumbianweapons.com/warfare.htm

http://www.mexicolore.co.uk/index.php?one=azt&two=art&tab=two&typ=reg&id=377

LÉON-PORTILLA, Miguel. A Mesoamérica antes de 1519. In BETHELL, Leslie (org). A América Latina Colonial. São Paulo: EDUSP; Brasília: FUNAG, 1998.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

UM POEMA COLONIAL ÉPICO

            O período colonial foi um dos mais difíceis momentos aos colonizadores. Tendo os Murha, como um povo inimigo, sendo totalmente vencidos pelos portugueses no final do século XVII. Henrique J. Wilkens, português, soldado e poeta, escreve um poema, onde descreve a luta desse povo amazônico. É um importante escritor amazonense e paraense.

            “A Murhaida” ou a “conversão e reconciliação do gentio muhra” é uma epopéia, pois narra fatos históricos, que destacam a coragem dos muhras e o seu extermínio pelos portugueses. Foi elaborado na metade do século XVIII, publicado em 1819, pela imprensa régia de Portugal, é um trabalho que antecede aos de Bento Tenreiro Aranha.

            Mas o que se pensa quando se fala em Literatura da Amazônia?

 De maneira geral, um reconto dos mistos que permeiam o cotidiano das populações ribeirinhas com o maravilhoso nativo, como o Boto ou o Curupira, ou ainda dariam destaque aos  naturalistas Martius e Spix, Bates e Wallace.

            Entretanto, há uma tradição literária que remonta ao século XVIII. Todas as manifestações culturais típicas e tradicionais da Amazônia, suas devoções, suas técnicas, sua produção, sua arte, sua dramaticidade, seu messianismo, seu lazer e suas consolações refletem essa alma conturbada e sonhadora do século XVIII, que circula desde a Alemanha de Goethe até as minas de prata do Peru; desde os progressos nos ideais de justiça, até o massacre dos povos da Amazônia; desde o sacrifício de Tiradentes, até a presença da Inquisição na Amazônia.

            Em 1785, Henrique João Wilkens (1736-1800?) instaura a poesia na Amazônia com o épico “A Muhraida”. Um hino ao genocídio perpetrado sistematicamente contra os índios.

            Wilkens mesmo, assim como Antônio José Landi (1708-1790), participa de alguns descimentos – transferência de tribos inteiras do lugar de origem para as missões religiosas. Juntos atuam, em 1755, no rio Negro. Wilkens, depois, como comandante, vai a uma expedição no rio Japurá (1781), última referência numa cronologia que não cita a data da morte.

            O poema de Wilkens não tem grandes enlevo de heroísmo, nem paixão pelo poder ou conflito amoroso. Mais do que equilíbrio da escritura, o que se lê, em “A Muhraida”, é quase um relatório preciso, para não dizer frio, sobre os acontecimentos narrados. Não há o maravilhoso pagão dos épicos clássicos, nem o maravilhoso cristão dos poemas ocidentais.

            O manuscrito de Wilkens é publicado em 1819 pelo padre Cipriano Pereira Alho, com “A Muraida” ou “A Conversão e Reconciliação do Gentio-Muhra”

            Nesta edição, Alho faz algumas modificações de palavras ou versos inteiros. O estilo de Mahuraida é definido como mais direto, incisivo e claro.

 Trechos De "A murhaida":
 
CANTO 1º

Argumento
Mediante a Luz e Graça que se implora
De quem é dela Fonte; Autor Divino,
A Musa Época indica que até agora
De horror enchia o peito mais ferino.
Do Mura a examinar, já se demora,
Usos, Costumes, Guerras e o Destino,
Que, entre as informes Choças, inaudito,
Ao Prisioneiro dá, mísero, aflito.


Canto 3.º        


Atentos ouvem todos a proposta,
Ainda que estranha, sem maior reparo,
Pois a Verdade bela nada oposta
É bárbara fereza, ou peito avaro.
Mas entre os Anciões, um Velho encosta
A ressecada mão, com gesto raro,
Na negra face adusta, e enrugada,
Estremado responde, em Voz irada.
Oh, dos teus poucos anos, louco efeito!
Da confiança vil, temeridade!
Que atenção nos merece, ou que conceito,
Conselho, que envilece a tua idade?
Queres, que ao ferro, generoso peito
Entregue a Paz? Ou perca a liberdade,
A doce liberdade, o valeroso
Muhura, em grilhão pesado, e vergonhoso?

Já não lembra o agravo, a falsidade,
Que contra nós os Brancos maquinaram?
Os Autores não foram da crueldade?
Eles, que aos infelices a ensinaram?
Debaixo de pretextos de Amizade,
Alguns matando, outros maniataram,
Levando-os para um triste Cativeiro,
Sorte a mais infeliz, mal verdadeiro.

Grilhões, Ferros, Algemas, Gargalheira,
Açoutes, Fomes, Desamparo e Morte,
Da ingratidão foi sempre a derradeira
Retribuição, que teve a nossa sorte.
Desse Madeira a exploração primeira,
Impediu, por ventura, o Muhura forte?
Suas Canoas vimos navegando,
Diz, fomos, por ventura, os maltratando?

Para os alimentar, matalotagem
Buscava nosso Amor, nosso cuidado;
A Tartaruga, o Peixe na viagem
Lhes dávamos, e tudo acompanhado
De frutas, e tributos de homenagem,
Em voluntária oferta, que frustrado
O receio deixasse; a Confiança
Aumentando, firmasse a Aliança.

Que mais fazer podia o Irmão? O Amigo?
Que provas queres mais de falsidade?
São estes entre os quais buscas Abrigo?
É nesta em que te fias amizade?

Ah Muhura incauto! Teme o inimigo
Que tem de falso toda a qualidade.
O que a força não pode, faz destreza,
Valor equivocando co’a Vileza.

Assim falando o Velho se levanta,
O lento passo ao Bosque encaminhando.
Mas o Orador de nada já se espanta,
Pois tal oposição stavaesperando:
E como nele obrava força santa
De um Deus, que o mesmo esforço ia aumentando;
Nos bárbaros infunde um tal conceito,
Que a preferência alcança, co o respeito.


Do Canto 6.º


Mas já na Habitação do eterno dano,
O Príncipe das Trevas, Monstro informe,
Já no Sucesso vendo todo Arcano
Da Providência Santa, deu o enorme
Sinal acostumado, que do humano
Inimigo Esquadrão, negro, disforme,
Veloz, qual pensamento, logo ouvido,
Se ajunta, na aparência, destemido.

Eia, lhes diz, briosos Companheiros!
Dignos todos de eterna, milhorsorte!
Já que igualar quisesteisos primeiros,
A aquele Deus, que rege a Vida, a Morte
Já que poder soimenso, prisioneiros
Fazer-vos pode, e por Barreira forte,
O imenso espaço pôr, que daqui dista
Ao Céu, que já se nega à nossa Vista.

Os olhos levantai, vede essas Feras,
(Pois serem racionais, só a forma indica)
Já quase a substituir-nos nas Esferas
Celestes destinadas; já publica
Veloz a Fama, conjecturas meras,
Que só a credulidade justifica.
Mas temo, desprezada esta aparência,
Se realize a ruinaco’evidência.

Ide pois precaver a contingência,
Não se perca da Presa a milhorparte;
As luzes lhe ofuscai da inteligência,
Empenhe-se Valor, destreza, e Arte.
Não se atribua nunca a Negligência
O desprezo do Aviso, pois reparte
O injusto Fado com desigualdade,
Poder, Ventura, e infelicidade.

Qual de Etna, ou de Vesúvio vasta entranha,
Fermentando indigesta Massa ardente,
Da repleção efeito, arroja estranha,
Temível, larga, ignífera Torrente;
No trânsito impetuoso quanto apanha
A cinzas reduzindo; indiferente
À dura penha, à flor, Jardim vistoso,
Casal humilde ou Povo numeroso.

Eia, lhes diz, briosos Companheiros!
Dignos todos de eterna, milhorsorte!
Já que igualar quisesteisos primeiros,
A aquele Deus, que rege a Vida, a Morte,
Já que poder soimenso, prisioneiros
Fazer-vos pode, e por Barreira forte,
O imenso espaço pôr, que daqui dista
Ao Céu, que já se nega à nossa Vista.

Do Império assim das Trevas vai saindo,
Qual Torrente a Coorte, em Chama involta;
O denso fumo os Ares já cobrindo,
Pestífero vapor, intenso solta.
Nas vastas Regiões se difundindo
Vai do Amazonas, Infernal Escolta;
Dos Átomos parece a qualidade
Neles se identifica, e quantidade.
(...)

Já aflitos, pensativos, dispertando,
De ideatal enfim preocupados;
Só mortes e vinganças respirando,
Já lhes tardava os ver executados.
Mas o Anjo Tutelar, que vigiando
Estava, e lamentando os enganados,
Armado do poder do Onipotente,
Tudo faz que se mude de repente.

Inspira a todos novo ardor, desejo,
De discernir o engano, e a verdade;
Ao Tentador infame, e seu Cortejo,
Sepulta na infeliz eternidade.
Faz, que ao rancor, universal festejo,
Entre os Muhras se siga, a brevidade
Do Embarque se procure; realizados
O fim proposto, os meios desejados.





BAENA, Antonio Ladislau Monteiro. Compêndio das Eras da Província do Pará. Belém: Edufpa, 1969.


ROSÁRIO, José Ubiratan. Amazônia, processo civilizatório: apogeu do Grão-Pará. Belém: Edufpa, 1987.


TREECE, David H. Introdução crítica à Muhraida. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v.109, p. 205-275, 1989.


WILKENS, Henrique João. Muhuraida ou o Triunfo da Fé – 1785. Anais da Biblioteca

Nacional. Rio de Janeiro, v.109, p.79-165, 1989.

WILKENS, Henrique João. A Muhraida ou A conversão e conciliação do Gentio-Muhra –

1819. Anais da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, v.109, p. 167-204, 1989.



BOGÉA, José Arthur. O MURA E A MUSA. – 2003


Sites consultados:
Acesso em  03/02/2010